domingo, 1 de abril de 2012

Os limites morais dos mercados



Uma das tendências mais surpreendentes do nosso tempo é a expansão dos mercados e do raciocínio orientado para o mercado para esferas da vida tradicionalmente regidas por normas que não estão relacionadas com os mercados. Em capítulos anteriores, consideramos as questões morais que surgem, por exemplo, quando os países contratam serviços militares e o interrogatório de prisioneiros a mercenários ou empresas privadas; ou quando os pais externalizam a gravidez e o parto a trabalhadoras pagas dos países em desenvolvimento; ou quando as pessoas compram e vendem rins no mercado livre. Mas existem muitos outros exemplos: deverão os estudantes de escolas com baixo aproveitamento receber dinheiro para terem boas notas nos exames padrão? Deverão os professores receber prémios para melhorarem os resultados nos exames dos seus alunos? Deverão os estados contratar empresas prisionais com fins lucrativos para alojar os seus reclusos? Deverão os Estados Unidos simplificar a sua política de imigração adotando a proposta de um economista da Universidade de Chicago de vender a cidadania norte-americana por uma taxa de 100 mil dólares ? Estas questões não têm apenas que ver com utilidade e consentimento. Têm também que ver com a maneira certa de valorizar práticas sociais fundamentais - serviço militar, parto, ensino e aprendizagem, penas criminais, a admissão de novos cidadãos e assim sucessivamente. 

Uma vez que a mercantilização das práticas sociais pode corromper ou deturpar as normas que as definem, temos de perguntar que normas não mercantis queremos proteger da intrusão do mercado. Trata
Uma vez que a mercantilização das práticas sociais pode corromper ou deturpar as normas que as definem, temos de perguntar que normas não mercantis queremos proteger da intrusão do mercado. Trata-se de uma questão que exige um debate público sobre conceções opostas do que é a maneira certa de valorizar bens. Os mercados são instrumentos úteis para organizar a atividade produtiva. Mas a menos que queiramos deixar o mercado rescrever as normas que regem as instituições sociais, necessitamos de um debate público sobre os limites morais dos mercados.
Michael Sandel, Justiça, Ed. Presença, 2011, p.275 (Tradução: Ana Cristina Pais)

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