quarta-feira, 28 de abril de 2010

Absurdo no ensino e o sentido da vida


Ontem recusei-me a fazer uma tarefa puramente burocrática na minha escola. O meu argumento foi: “Não faço porque não produz qualquer efeito prático positivo”. Senti um silêncio perturbador na sala. Um colega, desviando o olhar, disse: “Temos de fazer esforços”. É verdade, o que o meu colega disse. Temos realmente de fazer esforços. Mas para quê esforçar-nos em tarefas puramente inócuas? Se fazemos esforço só por fazer, então o esforço não é um meio para atingir um fim, mas o próprio fim. Mas se o fim é o esforço então vou carregar baldes de areia para a escola e facilmente demonstrarei todo o meu empenho e dedicação. Isto faz-me reflectir num problema clássico da filosofia da existência, que é o problema do sentido da vida. Por que razão é que tantas e tantas pessoas assumem a postura que Sísifo assumiu quando foi condenado pelos Deuses a arrastar uma pesada pedra para cima de uma montanha, sendo que sempre que chegava lá acima a pedra voltava ao seu lugar de origem? O mito de Sísifo, exposto no ensaio de Albert Camus mostra o absurdo da vida quando ela deixa de ter sentido. Será que a burocracia que cada vez mais aparece nas escolas, e que muitos professores parecem amar, conduz a alguma finalidade senão ela mesma, isto é, a sua reprodução? Se a resposta for afirmativa então está encontrado o absurdo da vida profissional dos professores nas escolas e encontrado também o principal factor que explica a falta de produtividade no sistema de ensino português. E também está encontrada a razão pela qual terei muitas complicações em ser avaliado com um Muito Bom ou Excelente.

1 comentário:

António Daniel disse...

Estou contigo. A burocracia, quando desnecessária, torna-se um perfeito absurdo. Contudo, o mais estranho é que essa burocracia controla, amedronta e torna as pessoas cúmplices de uma trama: impedir o pensamento. A reacção dos teus colegas é, nesse sentido, paradigmática. O silêncio revela medo, pois mostraram-se surpreendidos pelo facto de alguém ter pensado. O que não percebo é essa do esforço. Certamente esse colega é boa pessoa...